Procurador do MPF participou de debate na FGV nesta segunda. Segundo ele, proposta para punir juízes é 'projeto de intimidação'.
O Procurador do
Ministério Público Federal Deltan Dallagnol, coordenador da Operação Lava-Jato,
afirmou nesta segunda-feira (28) que a proposta de anistiar o caixa dois,
discutida na Câmara dos Deputados, representaria também a anistia à corrupção e
à lavagem de dinheiro. A declaração foi feita em debate na Fundação Getúlio
Vargas (FGV), na Zona Sul do Rio.
A anistia ao caixa
dois foi levantada por deputados em emenda a um pacote proposto pelo MPF,
conhecido como "10 medidas contra a corrupção". O perdão seria votado
na semana passada, mas foi adiado após forte reação popular, e deve começar a
ser apreciado no Congresso na terça (29). No domingo, o presidente Michel Temer
anunciou "ajustamento" contra a proposta.
De acordo com o
procurador, a manobra seria radical. "A proposta que se fez de anistia não
é uma proposta de anistia a caixa dois. É uma proposta de anistia a crimes
relacionados ao caixa dois, redigida de modo tal a permitir - na verdade, o que
se quer - garantir anistia da corrupção e lavagem dinheiro, inclusive
praticados na Lava-Jato", opinou o procurador.
Dallagnol comparou
a reação parlamentar à resposta das autoridades italianas à Operação Mãos
Limpas, na qual a Lava-Jato se inspirou. Na Itália, ao fim da operação que
também prendeu políticos, o Parlamento acabou aprovando leis a favor da
impunidade.
"Essa [dos
deputados brasileiros] foi a manobra mais radical que eu vi. Mais radical do
que aconteceu na Itália, sob a forma da reação de um sistema [político] a uma
investigação", disse.
O representante do
MPF disse que respeitaria a decisão soberana do Parlamento. Na semana passada,
ele visitou Brasília e disse que a proposta seria uma tentativa desesperada de
alguns parlamantares de se livrarem do processo.
"É a troca da
certeza de punição pela possibilidade de uma forte reação popular".
Dallagnol
reconheceu, no entanto, que, com o "esfriamento" da Lava-Jato,
propostas semelhantes podem ser retomadas no Congresso no médio prazo.
Crime de responsabilidade
Outro projeto que
pode fazer parte do pacote, segundo ele, é o que permitiria magistrados
responderem por falta de decoro. De acordo com Dallagnol, isso permitiria que
os investigados acusassem os investigadores. Ele classificou a proposta como um
"projeto de intimidação".
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